Invocação do Falso Profeta

Um cristão do primeiro século entendia muito bem a quem João, de Patmus, se referia quando escreveu sobre o Falso Profeta, figura que conduzia as nações ao culto da Besta, ente com quem, mais o próprio Diabo (inspirador de ambos), formava uma paródia da Trindade. A Concilia Romana era um órgão do Império Romano que tinha por objetivo institucional conciliar os diversos cultos dos povos do vasto império com o culto ao imperador Domiciano, que diferentemente de seus antecessores (que eram declarados deuses após a morte) declarou-se a si mesmo deus em vida, exigindo o culto, sem o qual era impossível adquirir licença para exercer o comércio ou ser recebido no Exército, jogando os cristãos em sua grande maioria na miséria, geralmente na escravatura, para que sobrevivessem. Escrevi sobre esse fato – e o registro deles nas epístolas da perseguição (Pedro e João) e no Apocalipse – anteriormente, aqui no próprio blog.

A Concilia Romana, junto com seus funcionários públicos ambiciosos, comerciantes e militares interesseiros e carreiristas, mais os instrumentari (uma espécie de serviço secreto do Império) é que chancelavam e davam autoridade política aos hereges que corrompiam os crentes de então, para que vendessem suas consciências ao império, agindo no meio da nascente igreja cristã por figuras identificadas nos textos do Novo Testamento como nicolaítas, Jezabel e Balaão – logicamente cifras que apenas os conhecedores familiarizados com as Escrituras compreenderiam.

Domiciano restringiu o Areópago, certamente – aquele lugar onde o Evangelho foi escarnecido mas também pregado; onde foi desprezado mas também onde salvou vidas. Sob Domiciano, não se poderia mais falar de um outro Homem Deus, ressurreto, e cujo poder era maior do que o de Nero, cuja obra moral era maior do que a do preceptor deste (Sêneca) e dos religiosos em geral (das outras religiões do Império, inclusive judeus), conforme o Apóstolo Paulo bem expôs nos três primeiros capítulos de sua epístola aos Romanos. (sobre o tema ver no youtube a excelente exposição de Franklin Ferreira intitulada “A pregação anti-imperial de Paulo”). Ao ser escarnecido, Paulo não procurou um pretor romano para enquadrar os discursos proferidos no Areópago.

O Areópago do dia é a liberdade de expressão; e balaãos, jezabéis e nicolaítas começam a esfregar a lâmpada do Judiciário para que dela saia o gênio da Concilia Romana – uma verdadeira invocação do Falso Profeta é o que fazem. Do gênio da lâmpada sairá a conciliação dos diversos cultos do império tupiniquim, não só religiosos, mas de formas de pensar, de crer e descrer, conforme susceptibilidades e populismos de momento. Enfim, eis aí um meio de conformar as consciências dos indivíduos ao Estado, a partir da cosmovisão mais antiga e íntima de qualquer homem – a religiosa.

Em uma época em que se fala de Tribunais multi portas, trabalham esses hereges para que se fechem as portas dos tribunais de consciência. Sim amigos, pois embora tenhamos sido ensinados que o primeiro juiz de uma causa é o advogado, na verdade o primeiro juiz é o indivíduo, em sua consciência, a deliberar se vai ou não propor um demanda. Povo com foro de consciência forte significa foro judicial sem muito trabalho. Foro de consciência fraco, foro judicial lotado.

Mas não só isso, hoje proíbem que se escarneça dos cristãos; amanhã proibirão os evangélicos de dizerem que Pomba Gira é um demônio, ou de que atrás de um ídolo (que os católicos dizem ser imagem) há um espírito maligno; proibirão os católicos de qualificarem os protestantes como pagãos (por não serem batizados sob a fórmula e crença católica); ou proibirão os muçulmanos de gritarem Alá é maior (maior que a divindade do não muçulmano). Sob pretexto de integridade física da criança e autonomia dessa sobre o próprio corpo, a defesa da circuncisão também pode ser premiada. A criminalização do pensamento será a mais ampla, e, amigos, pateticamente alcançará o imaginário.

Milhares de sentenças foram dadas contra a NetFlix e o Porta dos Fundos: as sentenças proferidas pelos cristãos; e elas foram executadas, com assinaturas que foram canceladas e não renovadas. Todas elas com base numa verdade reconhecida no artigo 18 da Declaração da Virgínia: a de que as religiões aceitas são aquelas que podem ser racionalmente expostas. Não que tenham que ser racionais – o ateísmo praticado pelo PdF é dos mais irracionais, tosco, boçal e estúpido. Mas devem ser expressas racionalmente para que TODO HOMEM E MULHER possam julgá-las e rejeitá-las. Independente de qualquer Concilia Romana ou instituição que lhe faça as vezes.

Um comentário em “Invocação do Falso Profeta

  1. Parabéns pelo artigo esclarecedor e primoroso,tanto pela parte histórica quanto pela opinião sobre censura!!! 👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼

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